A
frase que me marcou muito no filme “Mr. Jones” é proferida pela psiquiatra do
personagem de Richard Gare: “Senhor
Jones, você não é bipolar, o senhor tem uma doença! São duas coisas
completamente diferentes”.
Outra
peculiaridade observada por mim tanto no filme “Mr. Jones” quanto no filme “Uma
Mente Brilhante” é o fato concreto de que, em quase todos os casos
comprovadamente diagnosticados de transtorno mental, ocorre de a pessoa
resistir, num primeiro momento, ao tratamento. Independentemente do transtorno
mental que a pessoa tenha, a aceitação do problema é quase sempre encarada,
inicialmente, com muito preconceito
e incompreensão tanto por parte da
pessoa acometida pelo transtorno como pelos familiares e amigos. É claro que o
preconceito e a incompreensão são um tanto velados,
mas existem!
No
filme “Mr. Jones”, a personagem principal encarnado pelo ator Richard Gare vive
um dilema envolvendo a aceitação da
bipolaridade como um problema de saúde crônico, porém, tratável. Além
disso, o filme “Mr. Jones” mostra de forma clara o poder devastador do
transtorno quando não tratada adequadamente. As relações familiares são, muitas
vezes, abaladas pelo temperamento explosivo ou depressivo do portador de
bipolaridade. Casais esquecem o juramento eterno de fidelidade na saúde ou na doença e, simplesmente, desmoronam, por possuírem alicerces feitos
de areia.
No
filme, baseado em fatos reais, “Uma Mente Brilhante”, que conta um pouco da
experiência de vida do matemático portador de esquizofrenia, John Nash,
torna-se evidente a influência que os problemas mentais exercem na qualidade de
vida das pessoas. Nash é detentor de uma mente brilhante que aos poucos vai
sendo dominada pela escuridão de um transtorno terrível e devastador. O senhor
John Nash resiste o quanto pode ao tratamento da esquizofrenia até a luz da lógica iluminar sua mente e
fazê-lo perceber que os seus cabelos brancos se destacavam nas paisagens fruto
de sua imaginação.
Níveis
descompensados da DOPAMINA é a principal causa da esquizofrenia (“DOPAMINA além de ser um precursor
para a síntese da norepinefrina, atua como um neurotransmissor em certas
sinapses, regulando canais de potássio e cálcio na membrana pós-sináptica.
Distúrbios nestas sinapses estão relacionados com o Mal de Parkinson e a
esquizofrenia” 17).
Estudos recentes de uma área da ciência conhecida pelo nome de genética do comportamento mostram a
relação íntima existente entre o consumo de drogas e a esquizofrenia e como
esta descoberta pode contribuir para renovar as esperanças dos portadores de
esquizofrenia de se verem livres do referido transtorno, haja vista a
possibilidade de se criar tratamentos personalizados e de caráter profilático
com base no código genético do paciente.
“Há
indicações, por exemplo, de diferenças genéticas na regulação da dopamina,
neurotransmissor relacionado à sensação de prazer. Em algumas pessoas, a
cocaína provocaria uma descarga anormal de dopamina, causando vício. É provável
que esse medidor químico sofra uma deficiência natural e, portanto, alguns
indivíduos sejam mais suscetíveis a se viciar em cocaína, dizem os
pesquisadores Howard S Friedman e Mirian W. Schustack, autores da Teoria da
Personalidade.” 18
Recentemente,
foi apresentada uma reportagem jornalística onde cientistas afirmavam a
descoberta de uma nova técnica que pode ser considerada um grande avanço no
tratamento da esquizofrenia. Os pesquisadores usaram um pedaço de pele de uma
pessoa com esquizofrenia e com a ajuda de um vírus forçaram essas células a
voltar no tempo até virarem células-tronco embrionárias, que dão origem a
vários tecidos. Assim, recriaram os neurônios afetados pelo referido transtorno
mental. Tal descoberta gerou a expectativa de uma revolução no combate à
esquizofrenia. Com a descoberta dos pesquisadores será possível a fabricação de
medicamentos mais potentes no combate ao transtorno e, provavelmente, num
futuro próximo, poderemos falar em tratamentos preventivos da esquizofrenia.
Chamou-me muito a atenção a imagem de um senhor de idade portador de esquizofrenia,
chorando com a possibilidade de um tratamento mais eficaz contra o transtorno.
Foi realmente emocionante.
“A
médio e longo prazo podemos vislumbrar o que chamamos de medicina
individualizada, que é basicamente pegar o fragmento da pele de um paciente,
transformar aquela pele em célula-tronco e depois em neurônio, a partir daí
testar medicamentos buscando aqueles que são mais eficazes especificamente para
aquele determinado paciente”, explica Stevens Rehen,
professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. 19
Mudando de assunto, há um agravante
no meu caso! Tenho Transtorno Afetivo Bipolar, mas fui diagnosticado
inicialmente como esquizofrênico. Passei aproximadamente oito anos da minha
existência tratando o transtorno errado. Agora imagina como seria diferente a
minha vida se a falha humana não houvesse ocasionado o atrasado em oito anos do
diagnóstico correto de bipolaridade.
No meu caso, foi provado que, muitas
vezes, a vida imita a arte, mas a arte não imita a vida. No filme “Mr. Jones”
foi tão fácil para a psiquiatra diagnosticar a bipolaridade da personagem de
Richard Gare.
Na
verdade, graças ao sofrimento fruto dos anos na escuridão me tornei uma pessoa
mais evoluída. Sempre peso na balança da justiça a bagagem da experiência
adquirida ao longo da minha caminhada e chego à conclusão de que tudo valeu à
pena. A luz da minha consciência revela-me que não perdi oito anos da minha existência,
mas ganhei oito anos de pura experiência de pele. Senti na carne aquilo que
psiquiatra nenhum aprende nos livros.
Quando iniciei o tratamento para combater a
esquizofrenia, resisti com todas as forças à ideia de ter dentro da minha mente
um transtorno mental tão grave. Não compreendia o que estava acontecendo
comigo. Estava muito confuso e assustado! O que era esquizofrenia? Sou, estou
ou tenho uma doença? Para que tanto remédio? Tinha um medicamento chamado
“Dalmadorm” que estampava uma singela TARJA-PRETA
na caixa.
Uma
vez fui ao consultório de neuropsiquiatria... Durante todo o percurso da minha
casa até a Clínica, permaneci com os olhos fixos em direção ao Sol e a minha
vontade não era mais soberana. Por mais que minha mãe me dissesse um milhão de
vezes: “Filho, olhe para mim!” Não conseguia desviar o olhar da luz que
me cegava. O pior é que eu tinha consciência da verdade, mas alguma área do meu
cérebro estava discordando do que a minha consciência considerava verdade. Deus
não é heliocêntrico! Meu cérebro estava demonstrando uma rebeldia nunca antes
experimentada por mim. O neurocirurgião Ben Carson estava certo ao afirmar: “O cérebro é um milagre” 20. Eu estava errado ao
renegar o tratamento capaz de colocar meus olhos na estrada e minha mente no
caminho certo. Talvez não fosse o melhor tratamento?! Mas era o único
disponível naquela altura do campeonato. Temos que levar em consideração o fato
de o diagnóstico do Transtorno Bipolar ser uma realidade recente na história da
humanidade.
Em minha opinião, todos deveriam
experimentar participar de psicoterapia. Comparo a psicoterapia com um encontro
consigo mesmo. Geralmente, a pessoa que se propõe a participar de sessões de
psicanálise, descobre um novo ego a cada sessão. Eu, particularmente, me
surpreendi com as revelações sobre o meu ter
bipolaridade. Nunca poderia imaginar que o meu diagnóstico pudesse estar
errado. Em poucas sessões de psicanálise sofri uma metamorfose de um
esquizofrênico enganado a um bipolar consciente. A psicanálise foi para mim uma
espécie de Ferrari que alcança de zero a cem quilômetros/hora em menos de 10
segundos. Num dia fui dormir esquizofrênico no outro acordei bipolar!
Olhando
um pouco o passado, observo que são, justamente, as crises
maníacas/hipomaníacas que marcaram minha vida profundamente. Quando a depressão
penetra a nossa alma todas as paredes e móveis do quarto perdem a cor. Contudo,
são nos momentos de depressão que a realidade dissonante da pessoa com
bipolaridade torna o diagnóstico possível.
________________________________________________
17 O texto em itálico foi
retirado do site:
http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/neuroquimica.html
18
O
texto em itálico foi retirado do site:
19
O
texto em itálico foi retirado do site:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/08/cientistas-no-brasil-recriam-neuronios-de-pacientes-com-esquizofrenia.html
20 Citação retirada do filme “Mãos Talentosas: A
História de Ben Carson”.
FONTE: ARAÚJO, Denio Medeiros de; SIMPLESMENTE BIPOLAR; 1º
Edição Digital, Caicó: Editora Blogger, 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário