segunda-feira, 22 de agosto de 2016

CAPÍTULO 1: O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR É UMA DOENÇA QUE DE SILENCIOSA NÃO TEM NADA

            Transtorno Afetivo Bipolar é o nome dado a uma doença psiquiátrica crônica, ou seja, que pode ocorrer por toda a vida da pessoa. Essa doença é caracterizada pela oscilação de humor extremo. Na bipolaridade intercalam-se episódios de grande euforia e de profunda depressão. Quando os sintomas da doença não estão claros, existe a possibilidade de a pessoa com bipolaridade ser diagnosticado como portador apenas de depressão e o psiquiatra pode ser induzido ao erro de prescrever um antidepressivo sem o devido acompanhamento de um estabilizador de humor, consequentemente, surgirá o estado emocional conhecido pelo nome de mania (presente na bipolaridade tipo 1) ou a hipomania (presente na bipolaridade tipo 2 e na ciclotimia). Também é comum confundir bipolaridade com esquizofrenia, pois quando o paciente tem crises maníacas ou hipomaníacas costuma demonstrar alguns sintomas tipicamente esquizofrênicos (psicoses3: alucinações4, delírios5, paranoias6 e/ou pensamentos desorganizados e confusos).  Existem casos em que o paciente demonstra os sintomas das duas enfermidades (bipolaridade e esquizofrenia) devido à ocorrência de alterações significativas nos níveis dos neurotransmissores e hormônios relacionados às duas doenças (serotonina, noradrenalina, dopamina e cortisol7). Normalmente, a pessoa com transtorno bipolar demonstra um desequilíbrio nos níveis da serotonina (SEROTONINA – 5 hidroxitriptamina, 5HT – parece ser um dos mais importantes neurotransmissores: alterações no nível de 5HT estão relacionadas com variações no padrão de comportamento, como o sono, os impulsos sexuais, humor, entre outros. Além do cérebro, a SEROTONINA está presente em vários órgãos no corpo humano, além disso, ele demonstra ser um potente vasoconstrictor”. 8). Distúrbios na produção e liberação da dopamina no organismo estão mais ligados ao surgimento de quadros esquizofrênicos. Contudo, quando todos ou alguns desses neurotransmissores e hormônios (serotonina, noradrenalina, dopamina e/ou cortisol) estão presentes no organismo em níveis descompensados e/ou em desacordo com os padrões de um indivíduo saudável, pode ocorrer uma combinação dos sintomas bipolares, esquizofrênicos e/ou depressivos. O que diferencia de fato a esquizofrenia e a depressão da bipolaridade são as alternâncias extremas entre quadros depressivos e maníacos. Não é muito comum o paciente psiquiátrico ser acometido com mais de uma doença, mas existem casos em que o paciente mostra sinais de dois ou até três transtornos. Porém, deve ser observado se tal paciente não é hipocondríaco9 ou portador da Síndrome de Münchausen10.
           Os fatores biológicos que desencadeiam o surgimento de um quadro de transtorno bipolar são basicamente parecidos aos de outras doenças, como o diabetes, problemas cardíacos, asma, alzheimer, parkinson, etc. Muitas pessoas tendem a desenvolver um preconceito com relação as doenças comportamentais e mentais, mas devemos ter a consciência de que o cérebro é um dos principais órgãos do corpo humano, semelhante ao coração, pulmão, pâncreas, ou seja, da mesma forma que ocorrem arritmias cardíacas, podemos considerar como naturais os transtornos da mente. Os principais fatores biológicos que originam o transtorno bipolar dizem respeito a alterações químicas e de funcionamento do cérebro, como também problemas de ordem hormonal e imunológica do organismo.
Outro fator muito discutido e pesquisado atualmente é o fator genético. Muitos cientistas atribuem ao fator genético cerca de 60% a 70% da responsabilidade pelo surgimento de episódios de bipolaridade. No entanto, o fator genético não condiciona o indivíduo a desenvolver episódios bipolares. Quando nos referimos a fator genético estamos trabalhando em cima de probabilidades e não existe a certeza de que o fator genético será o único responsável pelo surgimento do transtorno bipolar. O que ocorre na realidade é uma predisposição a desenvolver determinada doença. Predisposição genética é uma tendência natural herdada dos nossos parentes (próximos ou não) e que potencializa significativamente a capacidade de o indivíduo desenvolver diversas características, como cor dos olhos, cabelos, pele e doenças físicas ou mentais. Quando temos algum parente que adoeceu de câncer ou quando os nossos pais são diabéticos é normal o nosso médico levar em consideração essas informações na tentativa de fazer uma abordagem profilática da doença. Assim, uma pessoa que possui parentes diabéticos costuma receber recomendações do médico no sentido de diminuir a ingestão de açúcares e carboidrato, visando à prevenção do surgimento da diabetes. Contudo, uma pessoa que possui um vasto histórico familiar no que diz respeito a doenças mentais não necessariamente irá desenvolver tais doenças. Existem casos de irmãos gêmeos que partilham a mesma carga genética, porém apenas um dos irmãos desenvolve o transtorno bipolar.
Tanto a depressão quanto a mania/hipomania são desencadeadas por fatores exógenos (decorrentes do ambiente) e endógenos (decorrentes de fatores biológicos – FATOR BIOQUÍMICO e FATOR GENÉTICO). Os fatores exógenos caracterizam-se pela presença de estímulo externo (conflitos familiares, excesso de trabalho, dívidas, perda de algum ente querido, perda de emprego, alcoolismo, uso de drogas, separações e mudanças, promoção no emprego, nascimento de um filho, etc.). Os fatores endógenos caracterizam-se pela presença de estímulos internos (predisposição genética, níveis descompensados de SEROTONINA, DOPAMINA, NORADRENALINA e/ou CORTISOL). No entanto, o que ocorre de fato na maioria dos casos é um somatório dos fatores exógenos e endógenos para a formação de um espectro bipolar. Apesar disso, podem ocorrer episódios bipolares sem, necessariamente, haver a presença de fatores estressores ambientais.
        Alguns sinais da presença do Transtorno Afetivo Bipolar podem passar despercebidos por médicos, familiares e amigos. Contudo, minha experiência mostra que o maior cartão de visitas da bipolaridade encontra-se intimamente ligado a experiências de iluminação.
Iluminação é um processo pelo qual a pessoa encontra-se intimamente ligada ao divino. Nas minhas experiências com a bipolaridade cheguei a beijar as portas do paraíso da insanidade.
Em geral, os episódios bipolares costumam seguir um regime ou padrão determinado (a depressão costuma surgir após as crises maníacas ou hipomaníacas). Essa sazonalidade pode tornar as crises bipolares bastante previsíveis. Existem casos (como o meu) onde ocorrem manifestações maníacas ou hipomaníacas, intercaladas por períodos de depressão. Entretanto, para muitas pessoas esse padrão de comportamento sazonal da doença simplesmente não existe, o que a torna totalmente imprevisível.
            Conhecer o que desencadeia os episódios maníaco-depressivos (distúrbios do sono, consumo exagerado de substâncias estimulantes e energéticas, como cafeína, cigarro, bebidas alcoólicas, drogas, etc.) e os sinais de alerta que o organismo dá diante da iminência de um episódio bipolar pode ser de excelente valia para a pessoa com bipolaridade, família, amigos, psicólogo e psiquiatra, permitindo o reconhecimento e a resposta de forma rápida e adequada aos momentos em que a bipolaridade mostrar tanto a sua face maníaca quanto a depressiva.
A seguir serão citadas algumas das minhas experiências no estado maníaco e hipomanía
  • Mania de perseguição.
  • A pessoa com bipolaridade sente que está dentro de uma espécie de Teoria da Conspiração. 
  • Ocorrências de dejavús.
  • A pessoa em estado maníaco ou hipomaniaco sente-se como se o cérebro estivesse turbinado, mas a sensação é só uma ilusão que se for alimentada torna-se perigosa, haja vista que o cérebro trabalha mais e descansa menos, assim, comparando o cérebro a uma simples conta bancária, quando você entra no cheque especial o juros abusivo é cobrado com correção monetária. Com o cérebro não é diferente, se o cérebro é exigido mais do que pode suportar/oferecer haverá, com certeza, cobrança de juros e correção monetária em forma de sono/repouso e, como é sabido, a pessoa em estado de mania e hipomania, geralmente, pensa 1.208.925.819.614.629.174.706.176 Bytes (1 Yottabyte) de vezes antes de dormir.
  • Há um aumento considerável da sensibilidade. Os meus sentidos tornam-se excessivamente aguçados, por exemplo, as músicas parecem melodias angelicais, os sabores têm o sabor da maçã do paraíso, sentir o cheiro dos temperos e o aroma das flores é uma sensação excessivamente agradável, o alimento torna-se mais saboroso, a experiência da pele torna-se mais intensa, tudo parece mais colorido.
  • Comportamento não usual de bom humor e motivação.
  •  Otimismo extremo.
  • Se a pessoa com bipolaridade for estudante poderá ocorrer um desleixo nos estudos, principalmente em períodos de provas, levando a uma queda no desempenho do aluno. Isso se deve a um aumento excessivo da confiança do estudante. Geralmente, a pessoa com bipolaridade crê que já sabe de tudo, não necessita aprender mais nada. O excesso de confiança pode levar o aluno a deixar de estudar pela simples certeza de que já detém conhecimentos mais do que suficientes para realizar a prova.
  •  Existe um aumento extremo na libido a ponto de você cometer indiscrições.
  • Aparente aumento da capacidade sedutora do indivíduo, que se utiliza de um linguajar calculista, porém, inadequado para ser utilizado no ato da conquista.
  • O paciente com bipolaridade no estado maníaco/hipomaníaco tem uma necessidade extrema de se expressar de várias maneiras: linguagem verbal, linguagem não verbal, linguagem artística (teatro, música, cinema, desenho, artes plásticas, etc). É comum o paciente com bipolaridade falar ou escrever muito (expressando-se quase sempre de maneira rápida). Se houver alguma aptidão artística poderá ocorrer um excesso de produção de quadros, músicas, poesias, desenhos, etc.
  • Quando se está em surto maníaco/hipomaníaco geralmente ocorre de o paciente criar um conceito exagerado de si mesmo sob a forma de alterego, por exemplo, já ouvi depoimentos de pacientes com bipolaridade que pensavam ser o Super-Homem, Rambo, Deus, algum santo da Igreja Católica, ou até mesmo um profeta.
  • É comum surgir ideias de perfeccionismo e organização. Geralmente, a pessoa com bipolaridade não admite a ideia de cometer erros. Falhar em alguma tarefa do trabalho, da Universidade ou até mesmo em casa pode desencadear crises emocionais gravíssimas.
  • O portador de bipolaridade pode desenvolver algumas ideias de grandiosidade e uma confiança exagerada em si mesmo, por exemplo, pensar ser o melhor em tudo, achar que possui forças sobrenaturais que o capacitam a enfrentar qualquer adversidade sem o auxílio de outras pessoas, etc.
  • Perda da noção de perigo ou risco na execução de determinada atividade. Existem casos de motoristas com Transtorno Afetivo Bipolar guiando o carro numa velocidade extremamente alta (muito acima da permitida). Também pode ocorrer de num assalto à mão armada a pessoa com bipolaridade enfrentar o bandido de mãos vazias e achar que nada de mal vai acontecer porque ele (a pessoa com bipolaridade) é Deus, um guerreiro imortal, um super-homem, um mestre das artes marciais invencível, etc.
  • Falta ou excesso de sono. A dificuldade de dormir geralmente é mais presente nos pacientes acometidos pelo estado maníaco ou hipomaniaco. O excesso de sono quase sempre está ligado à depressão.
  • Em alguns casos há um aumento da espiritualidade do portador da bipolaridade, podendo ser acompanhado de alucinações, visões, sonhos recorrentes ou qualquer outro tipo de manifestação do Divino. Geralmente, o paciente sente-se na obrigação de cumprir com uma missão dada pelo próprio Deus ou por alguma outra entidade espiritual. É possível ocorrer fases onde o indivíduo se sente conectado a tudo que o rodeia.
  • É comum haver períodos de profunda inspiração acompanhados de momentos de excessiva transpiração. Há uma grande necessidade de se manter em atividade constante, sem descanso, sem paradas para uma boa noite de sono reparador, sem pausas para alimentação, enfim, o paciente bipolar deseja manter-se em atividade por tempo indeterminado. Aumenta a necessidade de praticar atividades estimulantes que comportam elevado risco e consequências negativas (excesso de compras, apostas, desinibição sexual, brincar de roleta russa com arma de fogo, saltar de pára-quedas sem o pára-quedas). 
  • A pessoa com bipolaridade manifesta um comportamento desassossegado e agitado, desenvolvendo uma tendência a se distrair facilmente.
  • Irritabilidade e temperamento explosivo são sintomas bastante comuns nos quadros de mania/hipomania.
  • Pode ocorrer uma diminuição ou aumento descontrolado da alimentação, chegando ao ponto de a pessoa com Transtorno Bipolar ser acometido de desnutrição e/ou obesidade.
  • Planos e sonhos muito grandiosos caracterizam essa fase da doença. Você pensa e sonha em fazer mil e uma coisas e, no final, não consegue realizar nenhum dos seus projetos. 
  • Existe uma queda na concentração. Torna-se excessivamente desgastante a tarefa de estudar, ler livros, jornais e revistas, assistir televisão, etc. A concentração é tão afetada que o simples ato de atravessar um semáforo de trânsito torna-se uma missão quase suicida.
  • Pensamentos acelerados são comuns nos quadros de mania/hipomania. Você não consegue controlar seus pensamentos de forma satisfatória a ponto de passar noites acordado, tentando achar a cura para todas as doenças do mundo, solucionar a crise mundial, combater a corrupção, enfim, resolver todos os problemas usando somente caneta e papel...
  • Graças ao pensamento acelerado é comum ocorrerem fugas de idéias, ou seja, o pensamento flui tão rapidamente e em tamanha quantidade que fica difícil lembrar-se dos pensamentos essenciais ao bom entendimento e compreensão dos raciocínios. Geralmente, quando isso acontece, o paciente com bipolaridade não consegue organizar corretamente seu raciocínio, tornando o diálogo um pouco confuso. Você pensa algo e dois milhões de pensamentos depois você já esqueceu o que pensou há dois minutos. 
  • Na mania e hipomania há um crescente despertar da imaginação e da criatividade.
  • Podem ocorrer lapsos de prodigalidade, ou seja, um descontrole econômico-financeiro, com episódios onde há um aumento do consumo e um gasto excessivo de dinheiro.
  • Surgimento de um comportamento megalomaníaco.
  • Aumento da agressividade e da irritabilidade, não necessariamente com utilização de violência física. Quase sempre a agressividade e a irritabilidade se manifestam através de insultos, palavras ásperas, gestos obscenos. Socos são desferidos no ar ou em paredes na tentativa de amenizar o sentimento de fúria sem, para isso, machucar diretamente as pessoas próximas.
  • Estado de humor excessivamente ou levemente eufórico, com um aumento considerável de energia. O paciente encontra-se disposto a qualquer coisa (inclusive a cometer suicídio). Existe um sentimento de felicidade muito intensa proporcionada pela sensação de estar em evidência e ser o centro das atenções.
  • A pessoa com bipolaridade acredita possuir habilidades sensoriais e extrassensoriais fora do comum, considerando-se especialmente bem dotado físico, social, mental e espiritualmente.
  • Ocorre, às vezes, do portador de bipolaridade achar que detém a capacidade da clarividência, podendo ocorrer episódios em que a pessoa é impelida a atravessar o sinal de trânsito sem observá-lo, gastar rios de dinheiro jogando na loteria com a certeza da vitória, perceber como o trânsito se comporta para tentar antecipar eventos aparentemente imprevisíveis como acidentes ou imprudências de motoristas.
  • No estado de mania/hipomania não é recomendado que a pessoa com bipolaridade assuma a direção de veículos de transporte (bicicletas, carros e, principalmente, motos). É comum o surgimento de idéias de grandiosidade como super-poderes (indestrutibilidade) ou capacidades sobrenaturais (imortalidade). Na mania/hipomania o ciclista pode pensar que não precisa dos itens de segurança, o motorista do automóvel acha que não precisa usar o cinto de segurança e o motociclista pode dispensar o uso do capacete.
  • Outra fonte de perigo na vida de portadores de bipolaridade pode ser encontrada nas Redes Sociais da Internet. A exposição de fotografias, vídeos e textos comprometedores, a tentativa de interagir com pessoas estranhas, a busca por conteúdos pornográficos e violentos, a possibilidade de interação sexual via internet pode contaminar os pensamentos da pessoa. O surgimento da sensação de imunidade virtual que transforma o mundo virtual num ambiente altamente seguro (aparentemente seguro) pode levar o paciente com Transtorno Bipolar a baixar arquivos contendo “spams”, “cavalos de tróia” (trojans), “vírus de computador”, “malwares”, etc. Se a pessoa tiver conhecimentos avançados de informática pode considerar-se um hacker capaz de, através do uso da linguagem de programação, criar programas maliciosos, cuja função é infectar os computadores de várias pessoas conhecidas ou não, visando a autoafirmação.
  • O Transtorno Bipolar, quando não tratado adequadamente, torna a pessoa tanto vulnerável quanto ameaçadora no que diz respeito ao mundo real e virtual.
  • Existem ainda casos onde o portador de bipolaridade pensa ser capaz de interpretar códigos secretos, ler e interpretar a Bíblia Sagrada com a inspiração do Espírito Santo, colocar-se como personagem das Sagradas Escrituras, assistir um programa da televisão (acessar a internet, ler revistas, livros, jornais, quadrinhos, etc.) e achar que existem mensagens subliminares escondidas por trás de cada cena ou informação contida no referido programa ou mídia. No meu caso em particular, lembro claramente de um episódio onde uma amiga e eu assistíamos ao programa global “A Turma do Didi”. Na ocasião, minha amiga assustou-se com minha reação ao assistir o programa. Minhas risadas eram muito mais do que alegria ou felicidade. Minha experiência com a bipolaridade me fez enxergar nos meios de comunicação uma forma bem eficiente de comunicação que poderia, muito bem, ser utilizada por Deus para manifestar todo o seu poder e glória. Claro que ao assistir o programa global “A Turma do Didi” minha amiga somente conseguia enxergar um comediante fazendo o seu trabalho (divertir o público). No entanto, eu enxergava em Renato Aragão (Didi) um instrumento nas mãos de Deus, capaz de transformar o mundo em algo melhor e mais habitável. Na minha percepção maníaca/hipomaníaca o papel do comediante não consistia apenas em fazer as pessoas rirem, mas, ao exercer o seu papel na sociedade, o comediante estava na realidade evangelizando, educando, edificando uma nação inteira através da arte cômica, utilizando a mídia televisiva como meio de comunicação capaz de alcançar o maior número possível de pessoas (telespectadores). Imaginava que os meios de comunicação seriam uma ótima forma de manifestação do divino. Deus entrando nas casas de praticamente 100% dos brasileiros através da Televisão, do rádio, da Internet, do cinema, dos jornais, das revistas, dos quadrinhos, etc. Quando entrei no meu estado de eutimia 11 passei a perceber a realidade por trás dos meios de comunicação. O dinheiro que patrocina programas como BBB (Big Brother Brasil), A Fazenda, Pânico na TV, Rebeldes, Malhação, fez com que os meios de comunicação não fossem mais considerados, na minha percepção eutímica, os melhores espaços para a manifestação do divino. Atualmente, creio que Deus se manifesta através dos vasos de argila e não através dos cálices de ouro. Tenho a ligeira impressão que um escritor de fundo de quintal (que desenvolve seu trabalho de cordelista, cronista ou romancista, e tenta vender a sua produção nas feiras livres das cidades do interior do nosso Brasil, para ganhar o pão com o suor proporcionado pela transpiração inspirada de um artista da terra) tem um poder evangelizador, educador e edificador infinitamente maior do que a alienação proporcionada pelos meios de comunicação. No final das contas, percebo que os meios de comunicação são consumidos pela massa e que Deus prefere manifestar-se aos poucos.
  • Na mania e hipomania é notável a presença de uma personalidade expansiva, excessivamente bem humorada, com uma enorme capacidade comunicativa, porém, com pouco senso de ridículo, podendo comunicar-se e expressar-se de maneira inadequada em alguns momentos e situações. 
  • A vida pode ser encarada como um jogo sem regras e sem limites. A morte torna-se o próximo nível a ser alcançado no jogo da vida.
  • A pessoa com transtorno bipolar tem dificuldade de se apegar às coisas, às pessoas e à própria vida. O desapego exagerado pode gerar problemas graves, como o desinteresse pelo dinheiro, surgimento de idéias comunistas, aquisição de bens considerados supérfluos que rapidamente são colocados de lado, necessidade de enfrentar a morte para tentar entender ou dar sentido à vida. Nos períodos de crise, doações de grande vulto podem ser feitas com o propósito de livrar-se do “excesso” de dinheiro. Percebe-se também o surgimento de um sentimento excessivamente altruísta, por exemplo, a pessoa sente-se disposta a dar a própria vida por alguém. A pessoa afetada pela bipolaridade quase sempre tem poucos amigos.
  • Falta de julgamento.
  • O indivíduo com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) no estado maníaco/ hipomaníaco torna-se um perdulário... As pessoas acometidas pela bipolaridade desapegam-se facilmente dos objetos ao mesmo tempo em que se apegam patologicamente as pessoas... Pode ocorrer uma crise tão forte que a pessoa não consegue apegar-se aos bens materiais!
  • Há uma tendência de falar exageradamente... Segredos são colocados como cartas na mesa... Um livro aberto que deveria permanecer fechado!
Na hipomania a pessoa experimenta alguns dos sintomas (sinais) descritos acima em níveis toleráveis. As crises hipomaníacas não trazem grandes prejuízos à pessoa com bipolaridade. O estado hipomaníaco não costuma comprometer seriamente relações amorosas, familiares, de amizade e de trabalho. No entanto, quando a hipomania não é tratada adequadamente, o que geralmente acontece é a ocorrência de uma evolução do quadro hipomaníaco para o maníaco. 
No estado emocional conhecido como maníaco alguns dos sintomas (sinais) descritos acima podem fazer-se presentes em escala bem maior. Um episódio pode ser enquadrado nessa categoria quando a pessoa está em fase maníaca há pelo menos uma semana ou necessita de hospitalização. Na mania é comum o surgimento de quadros psicóticos, como paranoias, mania de perseguição, alucinações, delírios ou pensamentos desorganizados e confusos. É possível que a pessoa com bipolaridade sinta bastante dificuldade em se inserir no Mercado de Trabalho, pois os sintomas da bipolaridade tendem a desestabilizar as relações familiares, no trabalho e no cotidiano dos portadores do transtorno. Entretanto, atualmente há tratamentos muito eficientes e que podem trazer um bem estar para o a pessoa com bipolaridade. Na maioria dos casos as pessoas com bipolaridade têm uma vida normal (estudam, trabalham, namoram, casam e têm filhos).
O quadro depressivo é bastante comum tanto na bipolaridade tipo 1 (com predominância de mania) quanto na bipolaridade tipo 2 (com predominância de hipomania).
Temos aqui que diferenciar uma depressão bipolar de uma depressão reacional.

           A depressão bipolar não se caracteriza por uma simples tristeza e a mania/ hipomania não pode ser confundida com o sentimento de felicidade. Altos e baixos são sentimentos comuns a todas as pessoas. O que vai definir se uma pessoa é ou não bipolar é a intensidade e a frequência das instabilidades emocionais. A instabilidade emocional extrema e periódica entre o excesso de felicidade causada pelos quadros maníacos e hipomaniacos e a falta de iniciativa causada pela depressão bipolar podem ser indícios de que está se instalando um quadro bipolar.

A depressão reacional está intimamente ligada ao conceito de perda. Ela caracteriza-se por períodos de instabilidade emocional que afetam o indivíduo negativamente, ou seja, o indivíduo torna-se triste e desanimado por vários motivos: a pessoa perdeu um ente querido, foi mandado embora do trabalho (demitido), está passando por problemas familiares, etc. Em todos esses casos nós estamos lidando com fatores externos que podem desencadear uma depressão. Quando falamos em Transtorno Bipolar não se trata apenas de depressão reacional. É natural que se passe por essa depressão reacional. Contudo, no Transtorno Bipolar nós estamos falando de uma depressão psiquiátrica, ou seja, uma depressão que não se cura apenas com palavras. É extremamente necessário um acompanhamento psiquiátrico, tendo em vista a necessidade de um tratamento medicamentoso, associado a sessões de psicanálise, visando esclarecer o paciente e a família acerca da doença. Como já foi dito, existem os conceitos de depressão exógena e endógena, mas creio que o conceito mais correto a ser utilizado no diagnóstico de transtorno bipolar é o de depressão endógena. Assim, a depressão bipolar é uma depressão endógena, ou seja, ela surge dentro de nós, mas ela pode aparecer dentro de nós graças a fatores externos.” (Guilherme Torres - Psicanalista)

Na depressão bipolar costuma-se experimentar algumas sensações negativas:

  • Geralmente os quadros depressivos surgem logo após os surtos de mania e/ou hipomania, levando a pessoa a entrar numa espécie de ressaca moral. Nesse momento, torna-se difícil entrar em contato com as pessoas que presenciaram o surto maníaco e/ou hipomaníaco. É comum a pessoa evitar entrar em contato com o ambiente de trabalho, colegas de trabalho, amigos, família, etc. Normalmente, quando há perdas consideráveis (perda de emprego, abandono dos estudos, fim de relacionamentos amorosos, etc.) a pessoa com bipolaridade costuma tocar no assunto insistentemente, enquanto que a família tenta apagar o rastro da decepção.
  •  Afastamento do convívio social.
  • É absolutamente normal que na fase de depressão a pessoa perca o interesse em atividades que antes lhe traziam prazer. As pessoas que falam muito se tornam caladas, os apaixonados pelo mundo virtual que gostam de navegar pela internet não encontram forças para ligar o computador, escritores famosos deixam de escrever, etc.
  • Falta de energia e cansaço são bastante comuns nos quadros depressivos. Tarefas simples, como ligar o computador, tomar um banho, alimentar-se, escovar os dentes, tornam-se tão difíceis quanto usar um paletó de madeira. Enfim, o desleixo com a aparência pode ser facilmente detectado pelas pessoas que convivem com o portador do transtorno bipolar.
  • Quase sempre a pessoa com bipolaridade apresenta uma lentidão física, social, mental e espiritual. Não há disposição para a prática de exercícios físicos, a ascensão social torna-se uma montanha tão alta que nenhuma semente de mostarda e capaz de movê-la, o raciocínio e a concentração são seriamente comprometidos, a prática da oração e da meditação exige um esforço enorme e desgastante.
  • Há casos em que a pessoa com bipolaridade torna-se agitada, podendo apresentar algumas características também presentes nos quadros maníacos e hipomaníacos, como a perda de sono. Contudo, nos quadros depressivos, manifesta-se com mais frequência à falta de iniciativa e o excesso de sono. Nas crises depressivas a rede de dormir e a cama transformam-se no refúgio do guerreiro. O excesso de sono atinge a maioria das pessoas com episódios de depressão bipolar.
  • Em geral, são nos episódios de depressão que o instinto de sobrevivência encontra-se menos intenso e o pensamento suicida configura-se numa prática recorrente. Na depressão costuma-se pensar quase compulsivamente na ideia de suicídio, mas dificilmente a ideia torna-se uma realidade. Devido à presença da falta de iniciativa, a pessoa em crise depressiva costuma planejar várias maneiras de cometer o suicídio, podendo praticar o ato extremo somente quando experimenta uma crise de mania/hipomania. Na depressão a ideia de suicídio surge na mente devido a um sentimento de que a vida se tornou um fardo difícil de carregar. A vida transforma-se numa fonte inesgotável de dor, angústia, sofrimento e agonia. A morte seria o único meio de fazer a dor psicológica parar. Acredite, a dor proporcionada pela depressão faz qualquer paciente terminal pedir “arrego”.
  • A depressão bipolar pode gerar um quadro de disfunção alimentar severo (bulimia, anorexia, obesidade). A pessoa em crise depressiva encontra-se vulnerável a instalação de um quadro de desnutrição. O apetite aumenta ou diminui drasticamente e pode ocorrer um excessivo ganho ou perda de peso.
  • A pessoa com transtorno bipolar alimenta o sentimento de inutilidade e de culpa.  O portador de bipolaridade sente-se incapaz de realizar aquilo que é da sua competência. Anos de estudo e aprendizado são subestimados pelo sentimento de inutilidade. Apesar de a pessoa ser altamente capaz de realizar variadas tarefas a depressão impede a pessoa de enxergar o seu potencial produtivo. Quando a depressão impede a pessoa de exercer as suas atividades normalmente é bastante comum ocorrerem prejuízos muitas vezes irreparáveis, como a perda de um emprego e a incapacidade de reinserção no mercado de trabalho. Tudo isso, alimenta um sentimento de culpa na pessoa que a faz questionar sua importância para a sociedade ou núcleo familiar. A pessoa considera-se culpada por todos os problemas sociais, econômicos e familiares proporcionados pelos seus desequilíbrios emocionais quando, na verdade, o culpado é o transtorno bipolar. A pessoa costuma sentir-se um fardo pesado e impossível de ser carregado.
  • Durante as crises depressivas a concentração é seriamente afetada. Praticar atividades que exigem muita concentração pode acarretar um aprofundamento da depressão, tendo em vista que a pessoa com bipolaridade percebe-se incapaz de realizar as atividades simples e, muito mais ainda, as complexas, quando, na verdade, a doença é a responsável pela limitada capacidade de concentração. Com isso, a pessoa com bipolaridade deve ter consciência que essa limitação é passageira. Quando o tratamento começa a mostrar os resultados desejados, a concentração volta ao seu estado normal e o portador de transtorno bipolar pode retomar as suas atividades. É comum a pessoa afetada pela doença sentir dificuldade em lembrar-se de episódios passados e/ou memorizar novos acontecimentos.
  • Na depressão o pensamento flui de forma lenta e equivocada.
  • A tomada de decisão é profundamente afetada pelos pensamentos voltados ao negativo.
  • A pessoa com depressão bipolar desenvolve uma postura extremamente inibida (corpo curvado, cabeça inclinada em direção ao chão e olhar perdido num profundo vazio).
  • Os relacionamentos familiares, as amizades e as relações no trabalho são profundamente afetados pela fase depressiva da bipolaridade. A falta de diálogo (fruto de uma mente nublada e sem conteúdos de relevante importância) parece ser uma das reclamações recorrentes das pessoas com transtorno bipolar.
  • Chorar sem um motivo aparente é um dos sinais de alerta indicativo da instalação de um quadro depressivo.
  • Na depressão surge um sentimento de vergonha proporcionado por uma opinião mais alta (elevada) com relação às outras pessoas. O estado depressivo costuma alimentar e ser alimentado por uma preocupação patológica com o juízo alheio. A pessoa com depressão costuma depositar muito crédito e importância na opinião de pessoas alheias ao problema. Pode ocorrer de a pessoa com depressão entrar num mundo imaginário onde reina a confusão e o conflito, onde os juízos e opiniões configuram-se, ao mesmo tempo, um exílio social imposto por pessoas preconceituosas (muitas vezes pertencente ao círculo familiar) que não compreendem a dimensão da problemática bipolar, ou simples suposições construídas pela mente doentia do indivíduo com o intuito de justificar e reforçar o estado de instabilidade emocional (esse comportamento psíquico inadequado muitas vezes é involuntário). No entanto, algumas suposições podem ganhar uma consistência mais densa quando alimentadas pelo preconceito, estigma e discriminação. O isolamento e a solidão são as ferramentas utilizadas para não enfrentar (desviar) os olhares condenatórios das pessoas envolvidas direta ou indiretamente nos momentos de crise e instabilidade.
  • O isolamento social, a insegurança e o medo são presenças marcantes, principalmente após episódios maníacos/hipomaníacos e durante as crises depressivas.
  • Sintomas psicossomáticos podem surgir tanto nas crises maníacas/hipomaníacas quanto na depressão bipolar: aumento da sudorese, batimentos cardíacos acelerados (arritmias cardíacas), impotência sexual, distúrbios alimentares (bulimia, anorexia, desnutrição, obesidade), distúrbios do sono (insônia, sonolência excessiva).
  • Autocrítica.
  • Baixa autoestima.
  • Surgimento de pensamentos autodestrutivos (suicidas).
  • Sentimento contínuo de tristeza.
  • Apatia.
  • Perda da esperança.
  • Incapacidade em realizar/concretizar sonhos pessoais e profissionais.
  • Incapacidade em acreditar que pode se curar e levar uma vida normal.
  • Falta de motivação para realizar tarefas simples do dia a dia, como tarefas domésticas, rotinas de trabalho e/ou manusear um microcomputador.
  • Falta de desejo sexual.
  • Autonegligência.
  • Surgimento de uma persistente sensação de fadiga proveniente da má qualidade do sono.

Geralmente, logo após a ocorrência de episódios de mania e hipomania, instala-se quadros de depressão. As crises depressivas são alimentadas por um sentimento de ressaca moral. A ressaca moral nasce na medida em que o portador de bipolaridade começa a perceber e reconhecer as consequências desastrosas de uma conduta socialmente repreensível. A diferença entre ressaca moral e vergonha reside na culpa.
O período de ressaca moral não fica restrito aos momentos de depressão. Quando a pessoa entra num estado eutímico costuma apresentar resquícios (vestígios) da ressaca moral: forte tendência ao isolamento, o diálogo perde o vigor e aumenta o caráter introspectivo e introvertido da personalidade. A ressaca moral faz com que as palavras se tornem vazias e o comportamento profundamente fechado.

Talvez o maior drama da bipolaridade deva-se ao fato de a pessoa perder a personalidade. A pessoa com bipolaridade é a tradução do caos do lado de fora e internamente é o que te leva à morte”. (Cássia Kiss – Atriz)


             Além dos quadros maníacos, hipomaníacos e depressivos, também existem os episódios mistos, onde a pessoa experimenta simultaneamente quadros maníacos, hipomaníacos e depressivos por pelo menos uma semana. Devido ao profundo turbilhão de emoções, a pessoa acometida por casos de bipolaridade mista pode apresentar sintomas psicóticos e necessitar de internação. A pessoa pode apresentar um sentimento de euforia acompanhado de um profundo vazio interior. Podem ocorrer mudanças repentinas de humor da alegria à tristeza e da mansidão à agressividade.


a)      Tipos mais comuns de bipolaridade

  • Bipolaridade tipo 1: Com prevalência de episódios maníacos ou mistos intercalados por quadros depressivos.
  • Bipolaridade tipo 2: Com prevalência de episódios hipomaníacos intercalados por quadros depressivos.
  • Bipolaridade Mista: Um episódio misto ocorre quando a pessoa apresenta sintomas de mania/hipomania e depressão, simultaneamente, durante pelo menos uma semana. A pessoa pode experimentar variações de humor excessivamente rápidas (felicidade, tristeza e irritabilidade).
  • Ciclotimia: A característica essencial do transtorno é a persistente instabilidade do humor, ou seja, recorrentes variações de humor, com prevalência de episódios de hipomania e distimia ou depressão leve (na ciclotimia há uma ausência de episódios de mania e depressão maior). A ciclotimia é considerada uma versão mais branda do distúrbio bipolar, uma vez que os episódios de hipomania e distimia ou depressão leve tendem a se apresentar com menor intensidade/gravidade. Além disso, as variações de humor ocorrem num período de tempo muito curto (cerca de quatro dias ou menos). Há casos em que as variações ocorrem no mesmo dia. Na maioria das vezes os sintomas persistem por pelo menos 2 (dois) anos e o maior período de tempo em que o paciente está livre dos sintomas corresponde aproximadamente ao período de 2 (dois) meses. As alterações de humor são normalmente percebidas pela pessoa como sendo desvinculadas a eventos de seu cotidiano. O diagnóstico torna-se uma tarefa muito difícil sem um prolongado período de observação e/ou sem a devida observação do histórico da pessoa com ciclotimia. A doença é comum em quem possui parentes com transtorno bipolar tipo 1 (devido ao fator genético) e alguns indivíduos com ciclotimia acabam desenvolvendo o transtorno bipolar tipo 1 ou tipo 2 com o passar dos anos e com a evolução da doença. Ela pode persistir durante a vida adulta, cessar temporariamente ou permanentemente, ou ainda evoluir para casos mais severos da síndrome bipolar.
  • Outras formas de bipolaridade: Pessoas diagnosticadas com ciclotimia podem apresentar depressão leve/moderada e hipomania por um período inferior a 2 (dois) anos. Podem ocorrer, também, casos onde a pessoa experimenta simultaneamente episódios maníacos e hipomaníacos intercalados por períodos de depressão. Existe também a possibilidade da ocorrência de episódios independentes de mania e hipomania intercalados por crises depressivas. Há casos em que a pessoa experimenta uma crise maníaca seguida de uma crise depressiva e, logo após o período de depressão, instala-se um quadro hipomaníaco. A intensidade das crises pode variar bastante. As combinações possíveis são inúmeras e a sazonalidade incerta. O interessante é saber que as crises bipolares costumam dar sinais e a interpretação correta desses sinais pode facilitar o tratamento da doença.


b)      Quando digo, ninguém acredita

            O cérebro é um dos principais órgãos do corpo humano! Podemos considerar o cérebro um dos maiores milagres da vida. Nenhum outro órgão do corpo humano possui tantas funções como o cérebro. O que as pessoas devem e precisam entender é que o cérebro também adoece.
Posso utilizar o exemplo de pessoas diabéticas e hipertensas para explicar a dimensão do preconceito, do estigma e da discriminação que existe acerca das doenças da mente. Alguém que possui diabetes e pressão alta torna-se dependente de inúmeros medicamentos. Tenho inúmeros amigos hipertensos e diabéticos, mas nunca contei o número de caixas de remédios contidos nos armários de medicamentos deles, mas creio que eles utiliza aproximadamente uns 6 (seis) tipos de medicamentos diferentes para tratar tanto a diabetes quanto a pressão alta. No meu tratamento de bipolaridade são utilizados apenas 3 (três) medicamentos de uso controlado.
Meus amigos não demonstram em nenhum momento alguma forma de resistência ao tratamento da diabetes e da pressão alta. Nunca presenciei nenhuma manifestação de preconceito pelo fato de meus amigos terem diabetes e pressão alta. O diálogo acerca da diabetes e da pressão alta flui numa facilidade infinitamente maior do que nos casos relativos à saúde mental. Muitas vezes me vi ajoelhado no banco da igreja conversando com Deus: “Como gostaria de trocar minha bipolaridade por toda a insulina que existe neste mundo!” Frequentemente, as pessoas são levadas a pensar que diabetes e pressão alta são doenças de pessoas normais enquanto que o transtorno afetivo bipolar é uma doença que atinge apenas pessoas anormais.
O que torna os medicamentos para tratamento de transtornos mentais de uso controlado não é a gravidade das doenças, mas a importância que o cérebro ocupa na hierarquia fisiológica do organismo humano. Podemos comparar o cérebro a um rei que administra todo o seu reino (corpo humano) de maneira justa e equilibrada. Os demais órgãos do corpo humano (coração, pâncreas, rins, pulmões, estômago, intestino, etc.) são os súditos que esperam uma ordem do rei para exercer as suas funções normais. Qualquer desordem no funcionamento do cérebro desencadeia uma reação adversa nos demais órgãos do corpo humano (o coração bate mais acelerado, aumenta à sudorese do corpo, o intestino tem o seu funcionamento desregulado, etc.). Com isso, torna-se necessário um maior controle dos medicamentos destinados a regulação do funcionamento do cérebro, tendo em vista que o uso indiscriminado de tais medicamentos traz muitas consequências desastrosas ao bom funcionamento do organismo.
Uma pessoa com problemas cardíacos torna-se dependente de medicamentos que regulam o funcionamento do coração, as pessoas hipertensas dependem de medicamentos que regulam a pressão arterial, os diabéticos necessitam de insulina para baixar o nível da glicose no sangue, porque ainda existem preconceitos, estigmas e discriminações acerca das doenças da mente? A resposta a essa pergunta pode estar guardada nos valores sociais que são involuntariamente desconsiderados pelos portadores de problemas mentais. Um cardíaco pode ter um infarto do miocárdio, mas nunca morreria cometendo alguma indiscrição, como tirar a roupa em público, falar palavrões sem sentido, defecar dentro de um prato de comida ou consumir a urina depositada dentro de um copo descartável.
         A visão que as pessoas têm com relação aos portadores de transtornos mentais também sofre forte influência do histórico no combate e tratamento das doenças da alma. Ouvi muitos relatos de pacientes psiquiátricos já idosos que contavam algumas atrocidades cometidas contra eles, por exemplo, tratamentos com eletroconvulsivantes (que ainda vêm sendo utilizados) e o uso de medicações pesadas consumidas em doses cavalares, tornando os portadores de transtornos mentais muitas vezes pessoas dopadas e sem iniciativa. Todo esse trauma deixado pelo antigo sistema manicomial se deve em parte ao tratamento desumano dispensado aos portadores de transtornos mentais. Da mesma forma que os antigos leprosários eram utilizados, em épocas não tão remotas, para separar as pessoas com hanseníase do convívio social, os manicômios tinham o propósito de limpar as sujeiras deixadas pelos portadores de transtornos mentais. Criou-se, assim, uma cultura que igualou pessoas com transtornos mentais a criminosos perigosos. Embora existam crimes onde o fator psicológico seja o principal responsável, não podemos generalizar e condenar o todo pelos crimes de apenas uma parte. Também não devemos alimentar o estigma de que pessoas diferentes são incapazes de conviver harmonicamente em sociedade. Com o tratamento adequado uma pessoa com transtorno bipolar e uma pessoa saudável se equivalem e as diferenças tornam-se ocultas.

c)      A mente humana liberta e aprisiona

Uma doença geralmente traz consigo estigmas que podem ser alimentados pela própria pessoa, pelos familiares, amigos, colegas de trabalho. Falo muito aos meus amigos que o conhecimento liberta, mas também pode aprisionar. Somente podemos aproveitar o caráter libertador do conhecimento quando possuímos uma mente preparada para absorvê-lo. O que acontece comigo e acredito que deva acontecer na vida de muitos que leem esse livro é uma supervalorização da doença em detrimento da saúde. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os portadores de bipolaridade podem ter uma vida absolutamente normal, porém, para que isso seja possível, faz-se necessário que a família, os amigos, os colegas de trabalho, enfim, todos os que se relacionam diretamente com a pessoa portadora da bipolaridade, criem um ambiente acolhedor e incentivem o familiar a perseverar no tratamento psicológico/psiquiátrico, além disso, torna-se muito importante a conscientização do próprio portador de bipolaridade no sentido de crer que toda crise é passageira e o tratamento surtirá o efeito desejado na medida em que a pessoa for adaptando o pensamento e o comportamento a um estilo de vida saudável. Apesar de parecer difícil, torna-se necessária a tarefa de limpar a mente da ressaca moral e do sentimento de impotência diante da doença.

Estigmas são crenças estereotipadas baseadas somente nas características negativas de um grupo particular de pessoas (por exemplo, pessoas portadoras de doenças mentais). Uma pessoa que é considerada parte de um desses grupos fica automaticamente associada às características negativas relativas a ele. Essas crenças distorcem e contaminam o status e a reputação da pessoa. O estigma vem de fontes externas (por exemplo, da família, de amigos, da comunidade). Por vezes, quando a pessoa experiencia as atitudes estigmatizantes de outras pessoas, começa a acreditar nelas e pode começar a enxergar-se como sendo menos capaz e menos merecedora que os outros, algo que é denominado autoestigma. 12

Exemplos que podem ratificar o que foi dito acima são encontrados nas seguintes crenças: pessoas com transtorno bipolar são perigosas e, por isso, apresentam-se como uma ameaça a sociedade; homossexualismo é uma doença; os negros fazem parte de uma raça inferior; idosos e deficientes são pessoas inválidas.
      Quando essas crenças estigmatizadas transformam-se em ações concretas no seio de uma sociedade podemos dizer que o estigma mostrou sua marca através da discriminação. Tais crenças estigmatizadas já fizeram surgir muitos movimentos discriminatórios: Ku Klux Klan, Apartheid, Nazismo, Neonazismo, Hooligans, etc.
O estigma e a discriminação são alimentados pelo preconceito e o preconceito é alimentado pela falta de conhecimento. O conhecimento liberta na medida em que combate o preconceito, o estigma e a discriminação. No entanto, uma mente imatura pode transformar o conhecimento do transtorno em uma espécie de armadilha perigosa, onde o verbo ter desfigura o verbo ser. Quando a pessoa com bipolaridade conhece o transtorno, mas não faz nenhum esforço para vencer as limitações e as barreiras impostas pelo referido transtorno, de nada serviu o conhecimento. Nós, seres humanos, temos o poder de transformar aquilo que conhecemos através de ações concretas, vivendo cercados por pessoas que nos amam independentemente das nossas virtudes e vícios, e percebendo o quanto nós somos mais do que um simples transtorno. Às vezes, demonstramos certa tendência a nos resumirmos a uma perturbação mental qualquer quando na verdade existe muito mais de nós por trás da máscara da bipolaridade. Em muitos momentos de crise nos fundimos de tal forma com o ter bipolar que fica difícil para as pessoas que estão do lado de fora do problema perceber as nossas virtudes (qualidades, talentos e pontos fortes). Geralmente, quem não conhece o portador de bipolaridade só consegue enxergar a fachada que esconde uma gama enorme de valores. Não se consegue, assim, enxergar a essência do ser!
Na teoria tudo se resume a manter o foco no equilíbrio: tratamento, adaptação, vantagens e qualidade de vida. Entretanto, na prática o meu foco se voltou quase que totalmente para a perturbação mental. É possível ter qualidade de vida quando se enfrenta um adversário terrível como a bipolaridade? A nossa inteligência emocional é quem irá determinar o grau de comprometimento da nossa qualidade de vida! Ter o conhecimento do mal que nos aflige não basta para enfrentá-lo... Torna-se necessário uma postura combativa. Nunca desanimando diante de uma crise iminente... Sempre encontrando forças dentro e fora de si para enfrentar com determinação e coragem os desafios que se apresentam.
Embora algumas pessoas pessimistas e com uma visão negativa da realidade (como é o meu caso) tenham uma facilidade maior de enxergar apenas a adversidade no fato de ter bipolaridade, não se pode deixar oculto o lado positivo da bipolaridade. Ter bipolaridade é ser alguém especial, capaz de sentir o mundo a sua volta sobre uma perspectiva diferenciada. Nossa sensibilidade torna-se nossa maior virtude. Podemos perceber os detalhes de uma obra de arte, ouvir uma orquestra sinfônica, degustar um excelente prato de comida, sentir as fragrâncias das flores e dos perfumes, tocar a pele de uma mulher e sentir as vibrações causadas pela nossa simples presença. São bastante comuns os relatos de pessoas que tiveram experiências muito profundas de intimidade com Deus. A experiência com Deus torna-se mais intensa, viva e altamente (excessivamente, extremamente e excepcionalmente) pessoal. A bipolaridade permite um contato com o Deus que é pai, mãe, filho, primo e irmão. Costumo dizer que criador e criatura são suficientemente passionais para fazer loucuras por amor. Uma das maiores vantagens em ter bipolaridade encontra-se no fato de o bipolar viver muito intensamente todas as experiências proporcionadas pela vida espiritual e temporal. Embora, muitas vezes, assumam condutas irresponsáveis e inconsequentes, as pessoas com bipolaridade podem dizer de peito aberto e cheio de orgulho, que tiraram da vida o melhor e o pior que a vida é capaz de oferecer.
Experiências negativas também são enriquecedoras na medida em que elas permitem um crescimento como pessoa humana. A depressão pode transformar uma pessoa arrogante em humilde do dia para a noite. A mania/hipomania pode transformar uma pessoa compulsiva num fiel seguidor da palavra prudência. Várias pessoas com bipolaridade já me disseram que para enxergar apenas o que a vida tem de positivo é necessário perceber a graça escondida por trás das experiências negativas. Assim, um transtorno pode ser uma bela oportunidade para a pessoa rever condutas e valores que antes não eram tão importantes. Conheço pessoas que deixaram de fumar graças ao diagnóstico de hipertensão arterial. Pessoas que nunca deram valor a vida respiram fundo ao receber um diagnóstico de câncer. Existe um ditado popular que diz o seguinte: “Só aprendemos a amar aquilo que perdemos”. Muitas vezes, quando o equilíbrio sai pela porta dos fundos o amor à vida entra e faz a festa.
Creio que devemos tirar da vida o melhor que ela tem a nos oferecer independentemente da situação ou do momento em que nos encontramos. Existe um ditado que diz o seguinte: “Na política brasileira esquerda e direita estão do mesmo lado”. Num ponto de vista bastante positivo, podemos dizer que tanto o transtorno quanto o equilíbrio são como times de futebol que jogam do mesmo lado do campo, ou seja, independentemente do resultado do jogo a pessoa humana sempre sairá ganhando.
           No final das contas, o equilíbrio exerce um papel estabilizador e o transtorno exerce um papel transformador. Contudo, nunca devemos enxergar no papel transformador das tribulações mentais uma ameaça, mas, acima de tudo, devemos enxergar a tribulação mental como uma oportunidade de crescermos como pessoas humanas.


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3 Psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa "perda de contato com a realidade".
4 Alucinação é a percepção real de um objeto que não existe, ou seja, são percepções sem um estímulo externo.
5 Um delírio (às vezes denominado delusão) é caracterizado por crenças mal fundamentadas fortemente enraizadas na vida de uma pessoa e que causem prejuízo significativo para si mesmo ou para outros.
6 Paranoia é uma psicose que se caracteriza pelo desenvolvimento de um delírio crônico (de grandeza, de perseguição, de zelo, etc.), lúcido e sistemático, dotado de uma lógica interna própria, não estando associado a alucinações.
7 Cortisol é um hormônio corticosteróide produzido pela glândula supra-renal que está envolvido na resposta ao estresse; ele aumenta a pressão arterial e o açúcar do sangue, além de suprimir o sistema imune.
8 Texto em itálico foi retirado do site → http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/neuroquimica.html
9 A hipocondria, também conhecida por nosomifalia, é um estado psíquico em que a pessoa tem crença infundada de se padecer de uma doença grave.
10 Síndrome de Münchausen ou Transtorno factício é uma desordem psiquiátrica em que os afetados fingem doença ou trauma psicológico para chamar atenção ou simpatia a eles.
11 Eutimia - do grego eu = normal + timo = humor - é definido por Demócrito como um estado de equilíbrio no humor e por Sêneca como um estado de tranquilidade, um ponto de estabilidade entre o humor deprimido e o humor eufórico.
12 Texto em itálico foi retirado do livro BERK, Lesley; Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar; São Paulo: Segmento Farma, 2011.








FONTE: ARAÚJO, Denio Medeiros de; SIMPLESMENTE BIPOLAR; 1º Edição Digital, Caicó: Editora Blogger, 2016.

3 comentários:

  1. Excelente!
    Achei fantástico pela "vivência na própria carne", não apenas por conhecimento científico, daqueles que lidam com Ciência e procuram amenizar as dores humanas. E olha que já li muito sobre isso! Tenho um caso de Bipolaridade na família.

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  2. http://descobrindoasverdades.blogspot.com.br/2013/03/transtorno-bipolar-cristao.html?m=1

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  3. Muito obrigado meu irmão. Seu artigo me reanimou a continuar a batalha.

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