Meu pensamento às vezes
é contraditório! Entro em contradição frequentemente. Uma hora sou o silêncio,
outra sou trovão! Ao mesmo tempo em
que sinto fé em Deus, questiono os Seus projetos para a minha vida. Acreditava
em destino! Acreditava que nada acontecia por acaso... Aí veio um professor do
meu antigo Curso de Ciências Contábeis dizer que sem planejamento, somente por
acaso se chega a algum lugar. Num passado recente não tinha a clareza que
tenho hoje. Minha vida era uma mão/contramão sem fim, pois quando falava uma
coisa, praticava outra completamente diferente. Parecia até que eu era
hipócrita! Mas quem nunca foi hipócrita, demagogo, ou pecador que atire a
primeira pedra!
Quando eu dizia aos meus conhecidos colaboradores que
havia atingido um nível mais elevado de espiritualidade, alguns riam ou faziam
pouco do que eu estava falando (e com toda a razão, diga-se de passagem). Não
havia nenhuma modéstia nas palavras saídas de minha boca, mas nas épocas de
crise me sentia mais próximo de ser um anjo celestial do que de ser um humano.
Blindei meu coração para que ele só absorvesse pensamentos “positivos” (fruto
da minha imaginação) e simplesmente ignorasse os pensamentos negativos
(advindos do mundo) tão comuns no nosso dia a dia. Uma figura que ilustra bem
essa blindagem é o meu quarto, sempre fechado e poucos adentram nele. Como um
castelo fortemente protegido pela porta, dentro do quarto sentia-me protegido e
sair dele significava a mercê do perigo no contato com outras pessoas. Essa
ideia (blindagem do coração) era a verdadeira fortaleza que me protegia do
mundo hostil ao meu redor. Uma ideia enraizada bem lá no fundo da minha mente,
que confundia o meu coração e me isolava das outras pessoas.
Estava
completamente equivocado em meus pensamentos, pois fantasiava que eu não era
eu, mas o Pai que habitava em mim. Como se eu fosse digno de receber tal graça.
Sufoquei
o amor que havia em meu coração, não consegui reproduzir a felicidade que o
amor proporciona, e, acima de tudo, transformei Deus numa barreira que me
impedia de vivenciar os bons sentimentos imbuídos em qualquer ser humano.
Não
devemos fugir dos sentimentos humanos na tentativa de nos tornar mais divinos,
pois são justamente os nossos sentimentos (exceto o pecado) que nos tornam tão
parecidos com Deus. Ninguém é capaz de imaginar o tamanho do sentimento de amor incondicional que Deus tem por
nós.
Felizmente,
hoje percebo que não devemos enxergar o mundo como um inimigo mortal, mas
devemos sentir Deus como o nosso principal aliado.
“O
orgulho é o maior pecado da nossa virtuosa existência, pois nos impede de ver o
quanto a nossa fé é infinitamente maior do que uma SEMENTE DE MOSTARDA.”
Um
grande amigo uma vez disse: “É melhor
cair em contradição do que despencar do 100º andar de um prédio em Londres”.
Realmente, se você está querendo cometer suicídio o caminho mais rápido é
abrindo a boca ou pulando de um lugar bem alto. Por favor, não comprem apartamentos
em coberturas! A Torre de Babel 27
é um exemplo de que ser bipolar muitas vezes é perigoso. Primeiro você sente
uma vertigem ao chegar bem próximo de Deus. Depois que experimenta o sabor da “felicidade” de estar à direita de Deus
é inevitável tentar convencer os outros de que a sua “verdade” é BLÁ... BLÁ... BLÁ. Foi nesse contexto que o um amigo me
aconselhou a fechar a boca por um instante e tentar descer do pedestal. Nunca
imaginei que poderia aprender algo tão importante com um amigo ateu. Às vezes tenho
a impressão que muitos ateus nos precedem no Caminho do Reino de Deus.
A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios inspirou o
poeta Renato Russo em uma de suas músicas: “Mesmo
que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu
nada seria”. 28
O mesmo Renato Russo reforça o conceito de amor ao
declarar em uma de suas músicas: “Disciplina
é liberdade, compaixão é fortaleza, ser bondade é ter coragem. Lá em casa tem
um poço e a água é muito limpa”.
Agora
adivinha de quem é a casa, o poço e a água? Em minha interpretação, Renato
Russo fala de Deus! Não estou dizendo que o ser humano não seja capaz de ser
disciplinado, forte ou bondoso. Mas vamos falar sério... Quando o assunto é ser
humano, a casa é minha, o poço é fundo e a água é meio limpa!
Por favor, não me
chamem de hipócrita. Sinto amor quando Deus está em mim e eu Nele! Justamente
por isso eu deveria sentir amor sempre... Mas, infelizmente, a bipolaridade não
deixa.
Vivenciar o amor em toda a sua plenitude! Essa é uma
liberdade que todo o ser humano tem e deseja. E, muitas vezes, é através do
sofrimento e da provação que se alcança a felicidade do amor. Como bem nos
exemplifica a vida de Jesus Cristo.
Espero algum dia poder
respirar um pouco deste tão PREDESTINADO sentimento de FELICIDADE sem recair no
infeliz “DESTINO” daqueles que não seguem a Palavra de Deus...
Devido ao meu QE (Quociente Emocional)
ser instável e um tanto mal evoluído, imaginava sempre a FÉ como uma força
diretamente proporcional à AUTOESTIMA... Contudo, quando a autoestima está
baixa temos que manter o nosso grão de mostarda em segurança num lugar aonde a
MORTE não consiga achar por mais que procure...
A minha rede de dormir parece um coração! Quando estou depressivo me agarro nela com força e choro,
lembrando os momentos felizes que passamos juntos. E olha que eu amava
geladeiras, pois geladeiras têm muita beleza
interior, são frias, paradas e não reclamam de nada. Precisando nos dirigimos
a elas e, pronto, abrimos e sentimos toda a alegria de uma amiga que nos
alimenta, como uma mãe. Porém, agora,
escolhi a rede de dormir como minha atual companheira, pois nela deito e não
durmo, apenas penso na vida que poderia ter sido, mas não foi. Aliás, pensar é
o meu vício predileto. Além disso, quando a depressão vai embora da minha vida
pela porta dos fundos e deixa a mania entrar pela janela da alma, tenho a
possibilidade de usar o coração da minha rede como um saco de pancadas.
Como canta o vocalista da banda Legião Urbana, Renato
Russo, na música Meninos e Meninas: “Me
deixa ver como viver é bom... Não é a
vida como está, mas as coisas como são”. Isso é o que realmente importa na
vida daqueles que experimentam as instabilidades emocionais. Espero aprender
ainda muitas lições com os heróis da minha infância e adolescência. Entretanto,
há exemplo da letra da música Memórias da cantora baiana Pitty: “Eu fui matando os meus heróis, aos poucos,
como se já não tivesse nenhuma lição para aprender. Eu sou uma contradição e
foge da minha mão fazer com que tudo que eu digo faça algum sentido”.
Agora me digam... Onde Nossa Senhora do Patrocínio entra
nesta história? Recebi duas grandes graças desta representação de Maria que
transborda amor pelo seu manto sagrado. Para início de conversa, Nossa Senhora
do Patrocínio é a padroeira de uma cidadezinha pacata e bastante acolhedora
localizada no interior do estado brasileiro do Rio Grande do Norte. A cidade de
São Fernando está encravada no Semiárido seridoense e possui uma população de
aproximadamente 3500 corações pulsantes e calorosos, sedentos de amor e
dispostos a retribuí-lo na mesma moeda.
Fui agraciado com a aprovação no Concurso Público da
Prefeitura Municipal de São Fernando após uma árdua batalha onde as armas eram
os livros e a meta era a vitória, principalmente no que tange as competências
matemáticas, sabidamente conhecidas como meu calcanhar de Aquiles. Isso tudo
foi conquistado em meio a um problema de saúde na família, pois minha mãe é diabética
e encontrava-se enferma com um grave ferimento na perna. Felizmente, a saúde da
minha mãe se restabeleceu após um tratamento que exigiu dedicação de toda a
família e, passadas algumas semanas da realização das provas, tudo voltou à
normalidade... Passei em 2º lugar no Concurso de São Fernando. Lembro
profundamente que nos momentos que antecederam a realização das provas
aproveitei que a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio estava aberta,
entrei e rezei um mistério do terço pedindo luz para iluminar os meus passos na
hora da prova e, como agradecimento, prometi a Nossa Senhora que,
independentemente do resultado do Concurso, minha presença seria marcante (e
realmente foi) na festa em honra a Santa Padroeira de São Fernando. No final de
novembro de 2010, fui cumprir a promessa e recebi uma benção inesperada das
mãos Santas de Nossa Senhora do Patrocínio. O inesperado às vezes traz consigo
o sofrimento e o discernimento necessários ao crescimento (físico, mental,
social e espiritual) do ser humano e ao desvelamento de tudo aquilo que antes
se encontrava oculto. Sabe qual foi à benção de Nossa Senhora para a minha
vida? Minha primeira grande crise depressiva. Todos ficaram atônitos com o meu
comportamento fora do comum. Fiquei curado da depressão após dois meses tomando
medicamentos antidepressivos. Costumo
dizer que na bipolaridade a depressão é uma criminosa reincidente. No mês
de julho de 2011, a bendita da depressão voltou. Tentei manter-me no emprego,
mas preocupado com a possibilidade de não atender as expectativas geradas por
minha imaginação fértil, pedi demissão! Foi à escolha certa? Não sei! Existe
luz no final do túnel? Talvez?!
Além
de passar no Concurso da Prefeitura de São Fernando, fui aprovado no Concurso
da Prefeitura de Caicó (minha cidade natal), cidade também localizada no
interior do estado brasileiro do Rio Grande do Norte. Não tenho certeza se vou
ser chamado para trabalhar ou se vou ser perseverante no trabalho? O que sei é
que agora, neste exato momento, estou livre da depressão por tempo
indeterminado.
Não sou o dono do mundo, mas sou filho adotivo do Dono. Apesar
disso, o amor de Deus é uma herança que não cabe no meu peito e o meu amor
nunca preencheria por completo o coração
de um povo que é “santo” até no nome.
Na
verdade não sou tão fechado quanto às pessoas pensam. Em alguns momentos, sou
bastante passional nas minhas relações com os outros. Às vezes penso que me
envolvo demais, quando deveria estar envolvendo-me de menos.
Numa
das minhas viagens a trabalho peguei o transporte, como sempre fazia, e no
caminho a cidade de São Fernando tive o privilégio de conversar com uma senhora
que me deu um conselho um tanto infeliz, mas carregado de sabedoria. Ela me falou que a sua filha havia comentado sobre a
chegada de um funcionário novato à escola, um digitador meio tímido que pouco fala e muito escreve. A referida
senhora deu uma dica que mudaria a minha vida completamente: “Comunicar-se com as pessoas a sua volta é
fundamental para que elas possam retribuir o amor que você tanto merece”.
Mal sabia ela em toda a sua experiência de vida que o silêncio é uma das
maiores orações, mas ficar calado também é um pecado. Então o que fazer? Abrir
o verbo foi a minha péssima escolha! Como diz o ditado popular: “Em boca fechada não entra mosca”.
A
leitura do livro “A Metamorfose” de Kafka foi bastante reveladora no que diz
respeito à forma como a sociedade trata o indivíduo e como o indivíduo
enxerga-se diante da sociedade. Muitas vezes a família, amigos, colegas de
trabalho, enfim, a sociedade nos transforma em verdadeiros insetos, mas ocorre, às vezes, de nos tornarmos insetos por conta
própria.
Há
uma frase que a minha falecida neurologista dizia sempre e nunca mais
esquecerei: “Aprenda a dizer um sim às boas oportunidades e um não convicto quando for necessário! E,
acredite, quase sempre é necessário”.
Graças
a Nossa Senhora do Patrocínio e a cidade de São Fernando, percebi a importância
do equilíbrio entre abrir bem os ouvidos e manter a boca fechada. Além disso,
percebi o quanto sou querido! Quem decidiu ficar ao meu lado na luta diária em
busca do equilíbrio constante me fez perceber que o amor deve ser integral. Não se ama uma pessoa apenas
pelas suas qualidades, mas também
pelos defeitos.
Tenho consciência de que não devo alimentar a culpa a ponto de deixá-la bem nutrida,
transformando-a em ressentimento, mágoa
e remorso. Existe um ditado popular que diz: “Errar é humano, perdoar é divino!” Devemos sempre pedir perdão a
Deus e nos deixar perdoar por Ele! Somente assim seremos capazes de nos perdoar
e perdoar o nosso próximo. O perdão é o
primeiro passo para a reconciliação!
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27 Gn
11, 1-9
28 1Cor 13
FONTE: ARAÚJO, Denio Medeiros de; SIMPLESMENTE BIPOLAR; 1º
Edição Digital, Caicó: Editora Blogger, 2016.
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